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Andador traz liberdade perigosa a bebês

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Uma das fases mais emocionantes da vida de um bebê são os primeiros passinhos. Aquele andar desequilibrado, meio rebolado, com os pezinhos procurando o chão e o corpo fazendo um grande esforço para manter o equilíbrio. De vez em quando, um tombo no meio do caminho pode resultar em riso ou choradeira. A questão é que um bebê que está aprendendo a andar dá um grande trabalho para a família. Eles escalam coisas, pegam objetos, caem, choram e levantam em busca de uma nova 'aventura'. Para ajudar a passar por esta fase, muitas mães optam pelo andador. O equipamento permite que as crianças fiquem mais independentes e isto também possibilita que o cuidador tenha mais liberdade para fazer outras atividades. 

É nítido o alegria das crianças quando colocadas no andador, mas o sorriso e a independência não são sinônimos de segurança. É por conta do grande número de acidentes com crianças envolvendo andadores que a Sociedade Brasileira de Pediatria está fazendo uma campanha pela proibição destes equipamentos no País. De acordo com o diretor de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Pediatria, membro titular da Academia Paranaense de Pediatria e diretor do departamento de pediatria da Associação Médica de Londrina, Milton Macedo de Jesus, o que chama atenção no andador é o risco de queda com traumatismo craniano. 

O andador com suas rodinhas dá uma falsa sensação de segurança. Se uma destas rodinhas enroscar em um objeto que estiver no chão e o equipamento parar de repente, a criança pode cair de cabeça. 'Não há evidências de que este aparelho traga benefícios e sabemos que ele pode trazer malefícios indiretos. As quedas não são raras e podem levar à ocorrência de hemorragias e até a óbito', salienta. 

No Canadá, o uso, a comercialização e a propaganda de andadores é proibida. O objetivo dos médicos brasileiros é implantar uma legislação semelhante no Brasil. Na cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, uma lei municipal proíbe o uso de andadores em creches, escolas e hospitais. O médico explica que a orientação sobre os andadores faz parte da consulta pré-natal feita com as gestantes no terceiro trimestre de gestação. 'Falamos para a mãe não comprar andadores e caso ela já tenha, recomendamos que o objeto seja destruído, para que nenhuma outra criança use', alerta. 

 

Cabeça pesada 


Conforme o ortopedista pediatra, Marco Makoto, os traumas de crânio são os mais comuns neste caso. 'A criança tem a cabeça proporcionalmente mais pesada que o corpo, então um pequeno degrau no caminho do andador já é suficiente para provocar uma queda que pode ser grave', afirma. Ele acrescenta que o equipamento permite que a criança ande muito rápido e que, as vezes, nem a presença dos pais por perto é suficiente para evitar o acidente. 'Colocar uma criança pequena num andador é dar independência para um bebê que não tem noção do perigo', alerta. 

Independentemente do que tenha provocado a queda da criança, os traumas de crânio precisam ser acompanhados com cautela pela família e pelo pediatra. 'Podem resultar em hematoma local, mas em alguns casos podem trazer consequências neurológicas importantes', ressalta. O médico acrescenta que apesar dos riscos, a maioria dos pais ainda utiliza o andador. 'Não usar este artifício é prevenir acidentes', destaca o médico. 

Para Makoto, um dos maiores problemas causados pelo andador é a sensação de segurança dos pais. 'A pessoa que está cuidando da criança acha que ela está segura no andador e relaxa nos cuidados para se dedicar a outros afazeres. É neste momento que acontecem os acidentes', destaca. Ele acrescenta que o ideal é preparar um local cercado para que a criança possa ficar em segurança e ser supervisionada nestes casos. 


Riscos 

A criança, quando está com o andador tem acesso fácil a vários ambientes da casa e é aí que está o perigo. A maior parte dos acidentes envolvendo crianças nestes equipamentos está na queda de escadas, afogamentos em piscinas e queimaduras das mãos em fornos de cozinha. 'Os riscos são grandes mas os acidentes são preveníveis. Este instrumento é potencialmente perigoso', ressalta o médico. Ele acrescenta que a criança condicionada ao andador tem mais dificuldade para se equilibrar quando é colocada fora do equipamento. 'A maturação da criança deve acontecer naturalmente', orienta. O pediatra ressalta que se o bebê precisa de um estímulo maior para caminhar por conta de algum problema motor, os pais devem procurar um fisioterapeuta. 

Autor

Dr Marco Makoto Inagaki

Dr Marco Makoto Inagaki

Ortopedista e Traumatologista, Dor

Pós-doutorado em Intervencionismo em Dor no(a) Hospital Israelita Albert Einstein.